Mensagem Internacional de Dario Fo (Itália) Prémio Nobel da Literatura 1997
As marionetas, os fantoches e o teatro de sombras figuram entre as mais antigas expressões artísticas da nossa cultura. Em todas as civilizações, podemos encontrar as raízes teatrais e literárias das artes dramáticas no teatro de fantoches, que, por seu turno, evoluiu ao longo dos séculos das formas mais diversas e extraordinárias.Isto pode verificar-se pela simples contemplação das diversas variedades de marionetas que se desenvolveram durante o período medieval, desde as representações sagradas e misteriosas, até às representações de cenas da natividade, nas quais participavam figuras, marionetas e estátuas falantes.As interacções entre o teatro convencional e o teatro de marionetas foram sempre abundantes, abrangendo formas variadas e diferentes entre si. Por exemplo, na Idade Média, a noção teatral da máscara sofreu inúmeras alterações, absorvendo personagens e alimentando-se a partir de diferentes fontes.Uma das atracções específicas do teatro de marionetas é o elemento de comédia, especialmente nas marionetas de fio: grandiloquente, paradoxal, inteligente e eficaz. O elemento cómico não retira a sua expressividade apenas dos gestos, que representam um tipo fundamental de linguagem, especialmente neste tipo de teatro, mas também do vocabulário, panos de fundo e cenários. esse elemento cómico, torna-se frequentemente num criticismo social exagerado e selvagem, apesar do facto deste criticismo nunca ser assumido como o seu objectivo último.Os bonecos são, eles próprios, uma síntese do actor, seja ela criada pela ilusão do movimento, ou, pela ilusão da exasperação. Em complemento, todas as linguagens teatrais que encontramos no teatro de marionetas convergem para uma forma essencial única e intensa.É por isto que, pessoalmente, considero o teatro de marionetas uma incrível fonte de inspiração. Com o teatro de marionetas, tal como com a pintura, encontro a mesma resposta para sentimentos de bloqueio criativo ou falta de produtividade, e alcanço um resultado racional ao criar sequências de cenas de marionetas, que agem como um esboço ou resumo da síntese que procuro. Da mesma forma, alcanço uma síntese ao vestir as marionetas, criando cenários e um enredo dramático, e, assim, tudo o resto se dissipa.Na minha vida profissional, as marionetas estiveram e continuarão a estar presentes. Naturalmente isto deve-se em grande parte a Franca e à sua tradição familiar, tradição que ela manteve e da qual retirou grande prazer. Como um aparte, deixem-me referir que, num período particular da sua história, a família Rames geriu uma grande e bem sucedida companhia de teatro de fantoches, tendo trabalhado no teatro tradicional por mais de sessenta anos.Tenho usado fantoches e marionetas desde que comecei a subir ao palco, começando com "Grande pantomima con pupazzi piccoli e medi", em que metade dos personagens eram interpretados com marionetas.A mais recente experiência com espectáculos de marionetas, foi no espectáculo levado à cena com Franca e Giorgio Albertazzi: "Il diavolo con le zine".Para terminar, gostaria de relembrar que no caso da "Grande pantomima" usámos não só "pupazzi" mas também marionetas conhecidas como "catalanas" e outras figuras enormes que tinham mais de três metros de altura. Demonstrámos assim, com este acto, que quebrar com a uniformidade de formas de expressão podia produzir um profundo valor teatral, inesperado, até para aqueles de nós que conceberam a ideia. Como se devem ter apercebido, adoro o teatro de marionetas, e a UNIMA, ao organizar o Dia Mundial da Marioneta, dá-me a oportunidade de expressar a alegria que artistas e criadores experimentam diariamente, por todo o mundo, ao trabalharem nos diversos tipos de teatro de marionetas.Nota do tradutor: Franca Rame é a esposa e parceira de Dario Fo.
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