sábado, novembro 26, 2011
Portugal em marionetas participa no Festival Fringe
Um menino de madeira, um jardim e um manipulador. Uma criação inteiramente portuguesa e um espectáculo de “one man show” vai estar em cena no próximo sábado, integrado no Festival Fringe.
Não é o Pinóquio, nem vive na pequena aldeia italiana, nem tem um pai de nome Geppetto. Chama-se Jasmim, vive num jardim e o “pai” é Sérgio Rolo, quem o criou e quem lhe dá vida. Pela primeira vez em Macau, o ex-actor do Teatro de Marionetas do Porto vem fazer a estreia de “Jardim Jasmim” ao território – o primeiro espectáculo depois da criação da Má – Marionetas do Algarve.
Uma peça para maiores de quatro anos e sem limite de idade. O argumento convida-nos a entrar no mundo do menino e conta a história do seu dia-a-dia e do seu jardim. “Jardim Jasmim conta as vivências e os sentimentos da rotina diária do menino”, desvenda Sérgio Rolo.
Um mundo imaginário, onde tudo se passa e tudo o que se sente é uma hipérbole de vivências. O artista fala em “booms imaginários”, entre flores, plantas e, claro, jasmim. O boneco é manipulado em loco. Propositado ou não, para Sérgio Rolo, assim dá-se mais vida ao menino e as crianças podem ver como tudo funciona e se vai transformando ao longo da peça. É em português, mas a língua pouco importa. O artista quis apostar na música, como veículo de comunicação e como dinamizador da narração.
E como todos os contos, este não é diferente e pretende ter uma mensagem de abertura ao mundo. Sérgio Rolo explica ao Hoje Macau: um universo infantil marcado pelo egocentrismo deve-se quebrar e mostrar que há vida para além de cada um. “As crianças vivem na casa delas, no jardim delas, no mundo delas. Mas o mundo é global, há mais árvores e mais meninos a viverem as mesmas experiências”, refere em alusão ao espectáculo. Assim, no final da representação, o jardim, simbolizando o universo de jasmim, abre-se para os outros. “O mundo é global. No final há uma abertura e uma análise”, comenta ainda o artista.
Um público exigente
Um espectáculo direccionado para crianças, que nas palavras de Sérgio Rolo, é a audiência mais difícil de conquistar e de prender ao lugar. “É como andar num arame sem chão por baixo”, assim descreve o sentimento de entrar em cena, com uma plateia onde as crianças são os juízes.
Mas é também no planeta das crianças que o artista gosta de estar e nos seus mundos imaginários. “Há uma liberdade para criar. Eu gosto de não ter limites como criador”, explica.
Serão 40 minutos ao encontro do público, numa acção directa e onde não há segredos de produção. “O manipulador está à vista e como se tivesse dupla personalidade – também é narrador”, diz o artista. “Para as crianças é bom haver um desvendar de truques.”
E como hoje em dia o universo infantil está ligado às tecnologias, o espectáculo tem uma componente gráfica muito intensa. “É um forma de ir ao encontro da realidade dos mais novos. Tentei fazer a peça numa espécie de anúncio de televisão. As imagens são fortes e instantâneas”, esclarece ainda.
Num “one man show” tudo é controlado por Sérgio Rolo, não deixando escapar o sistema mecânico que faz Jasmim caminhar de forma quase humana. Apesar de dar o nome à peça, o menino de madeira não é a personagem principal. “Ele aparece e desaparece, a imagem gráfica é o mais importante nesta peça.”
Macau, o público e o ser artista
Sérgio Rolo pretende ficar em Macau pelo menos até Fevereiro. Em menos de uma semana vários projectos já surgiram e acima de tudo a sua arte é apreciada como arte. “Há muito tempo, se é que um dia aconteceu, não sentia consideração pelo facto de ser artista”, manifesta. Um público afável e respeitoso, uma terra de oportunidades de trocas e experiências já apaixonou este português. Sérgio Rolo quer dar o que sabe, mas quer também aprender – mais sobre marionetas, para poder levar para a Europa o que se faz na Ásia. “Gostava de ir ao Vietname e estudar as técnicas de andar sobre a água e aprofundar também as marionetas chinesas.”
http://hojemacau.com.mo/?p=24756
(noticia enviada por Rui Sousa)
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