quarta-feira, março 20, 2013

Mensagens da UNIMA no Dia Mundial da Marioneta 2013


Dia Mundial da Marioneta - 21 de Março de 2013
A UNIMA tem o prazer de apresentar a Mensagem para o Dia Mundial da Marioneta 2013


Pedimos, este ano, a um renomado músico italiano, o Maestro Roberto De Simone, que é igualmente um autor, encenador e especialista da tradição napolitana de Guarratelle e Pulcinella.
Esta escolha vem na sequência da visita que Pudumjee Dadi e eu próprio fizemos a Roma e Nápoles, por convite da direcção da UNIMA-Itália, o que também nos permitiu conhecer Acerra, cidade natal do personagem Pulcinella do qual nos viemos a tornar Ambasciatore Globale.
Agradecemos ao director e à equipe do prestigiado Museo di Pulcinella di Acerra, pela honra que nos concederam convidando-nos a visitá-lo.
Todos nós sabemos a imensa influência que o caráter de Pulcinella exerceu no mundo das marionetas e a sua evolução gradual, sob formas e aparências distintas, na cultura de muitos países.
O texto do Maestro permitir-vos-á entrar no coração da cultura napolitana e sensibilizar-vos-á para a dimensão musical e rítmica que deverá possuir todo o bom mestre marionetista.
Nossa arte é única e em plena efervescência.
A 21 de Março de 2013, celebremos a Marioneta! Tenhamos consciência de que, entretanto, algumas formas tradicionais estão em perigo e precisam de proteção.
A este respeito, Nápoles e a sua região são um exemplo a seguir: a transmissão da tradição ocorre de modo respeitoso e vivificante entre mestres e discípulos há mais de 500 anos.
Jacques Trudeau
Secretário-Geral da UNIMA
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Roberto De Simone
Diretor e musicólogo italiano, a sua dedicação a temas antropológicos também estão presentes, entre outras, em obras como Fiabe campane (1993).
Trabalhou como músico e diretor, muitas vezes em colaboração com a Nuova compagnia di Canto Popolare. Foi director artístico (1981-1987) do Teatro San Carlo de Nápoles e tem dirigido numerosas óperas.
Nomeado em 1998 membro da Academia de Santa Cecília, veio ainda a receber, do Presidente da República francesa, o título de Cavaleiro das Artes e das Letras.
Em 2003, recebeu o prémio Roberto Sanseverino.
(In: enciclopédia Treccani.it , Itália)
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Mensagem Internacional de Roberto De Simone

O meu primeiro encontro com Pulcinella inscreve-se nas minhas primeiras lembranças de infância, quando Pulcinella fazia parte do imaginário de todas as crianças napolitanas.
Podíamos então encontrá-lo nas ruas, nas deslumbrantes cestas de brinquedos dos vendedores ambulantes e nas barracas de feira pelo São José, ou pela Epifania, ou pela festa de Piedigrotta, onde os brinquedos tradicionais eram expostos para venda. Entre eles estava um pequeno Pulcinella , o qual, montado num carrinho miniatura e animado por uma vareta, batia mecanicamente as mãos equipadas com pequenos címbalos de lata. Havia também, frequentemente, um outro brinquedo que consiste num pequeno cone de cartão vermelho, dentro do qual estava inserida uma corneta com uma pequena palheta, a Pivetta, e com a qual se podia interpretar o refrão de uma tarantella tradicional. Também fazia parte do artefacto, um fantoche à semelhança de Pulcinella, cuja camisa estava colada ao rebordo do cone, e que um pedaço de arame aí introduzido e impulsionado por qualquer criança faria movimentar para cima e para baixo.
Obviamente, o jogo, pela insinuação sexual associada a este movimento, conferia ao nosso herói um significado fálico, também reforçada pela presença noutras manifestações tradicionais.
Finalmente, Pulcinella comparecia ainda em rimas de músicas para crianças, em cantigas de roda, em fábulas, em suma, pertencia à textura irreal da tradição, de modo que, em primeiro lugar alimentava a função iniciática e, de seguida, adquiria uma profunda significação misteriosa e emblemática.
Para tudo isto, o teatro de fantoches itinerante Guarattelle também contribuiu seriamente, lá onde ganhavam vida o fantástico Pulcinella, Teresina (a sua namorada), o Cão, a Morte, o Carrasco, e outros, apresentando-se ora na Piazza del Gesù, em San Domenico Maggiore ou à Porta Capuana, magnetizando a atenção das nossas caras de crianças que, de boca aberta, vivíamos aí a profissão de fé da nossa Bíblia onírica.
Voz de Pulcinella:
Puè puè puè puè puè
puere puè puè.
Mostra-te Teresa
Vem mostrar-te na tua varanda,
Que eu quero que oiças uma música bonita.
Por fim, quero ainda dizer-vos que, mesmo no repertório tradicional do Teatro Guarattella, podemos encontrar personagens e cenas que parecem ter sido tomados por empréstimo da tradição judaica, da tradição espanhola, da tradição do teatro latino, e até mesmo do teatro grego.
O termo guarattella é a versão, em dialecto, de Bagattella (um caso trivial), e deriva de Bagatto que é uma das cartas maiores do tarot, cuja origem cabalística foi veículo de elementos e histórias frequentemente encontrados entre os enredos do repertório do teatro Guarattella.
Terminarei com uma declaração pungente que gravei da viva voz do derradeiro guarrattellaro fiel à antiga tradição napolitana, chamado Nunzio Zampella, falecido prematuramente, e que tinha no seu ADN os cromossomas da antiga arte “pulcinellante”, o qual, à questão «até que ponto a utilização da Pivetta é importante para o marionetista tradicional», respondeu:
Zampella: “- É crucial! A arte da marioneta não é fácil. O manuseio pode ser simples, mas a mímica é musical, o movimento é música. A coisa mais difícil é a voz dupla, isto é, saber alternar a voz natural e o uso Pivetta para a voz artificial. O marionetista deve ser capaz de reproduzir todas as vozes: a da mulher, do polícia, do monge, de Pulcinella, a voz do cão, e até mesmo a da morte. Porém, qualquer que seja o disparate pronunciado no espectáculo, ele deve tornar-se em ritmo. Essa é a verdadeira força da Guarattelle: o movimento é ritmo, as palavras são música. “ (21 de Junho de 1975)
* A marioneta Pulcinella foi criada por volta de 1620 e inspirou dezenas de outros personagens do teatro popular europeu que foram, todos, capazes de alegrar e proporcionar um espaço de liberdade aos seus públicos.
Desejo a todos, nos cinco continentes, um fabuloso Dia Mundial da Marioneta!

(Tradução livre, de Ildeberto Gama, a partir da versão francesa em http://www.unima.org/uniF_Message13.pdf)
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Mensagem do Presidente da UNIMA Portugal
Dia Mundial da Marioneta em Portugal – 21 Março 2013


Por certo muitos dos nossos associados estariam à espera que eu escrevesse uma mensagem politicamente correcta, a dizer para não se esquecerem de pagar as quotas e aparecerem com mais frequência no Centro de Documentação ou mesmo para ajudarem mais na criação de conteúdos da nossa Magazine. Mas não é isso que vai acontecer! Sempre achei que este tipo de mensagem devia conter o que nos incomoda na alma no momento em que a escrevemos e por isso aqui vai:
Este ano, como desde há muito tempo, comemora-se o dia mundial da marioneta a 21 de Março. Todos sabemos que este dia é um dia de muitas comemorações, dia da Árvore, da Poesia, etc, etc. Mas o que importa mesmo neste caso é que pelo menos uma vez por ano o teatro de marionetas seja lembrado. Em Portugal este ano estamos todos um pouco com o coração nas mãos, pois os apoios estatais e dos mecenas são cada vez menos. Se já era difícil viver da cultura em Portugal, agora com todos estes cortes nos apoios e aumentos nas licenças está a ser quase impossível. Não me lembro de ver as programações dos teatros tão atrasadas ou inexistentes como agora. O teatro de marionetas ficou sempre ou pouco à margem da escolha dos programadores deste país, salvo raras mas boas excepções. A bem da verdade já passamos há alguns anos o estigma do teatro de marionetas ser uma “coisa” para crianças. A produção das estruturas profissionais portuguesas já nos habituou a uma qualidade sem igual, e temos como prova disso os prémios conquistados pelos marionetistas portugueses um pouco por todo o mundo. Mas agora temos um novo obstáculo!
Se por um lado estas “crises” são boas para limpar o mercado do que é mau, e simultaneamente está a destruir o mercado do teatro de marionetas, por outro lado estamos a começar a criar “Reis” nos teatros recuperados com o dinheiro de todos. Veja-se a quantidade de “reizinhos” que temos por todo o país que decidem as programações das salas. Nunca na história de Portugal tivemos tantas salas de espectáculo com condições tão boas para os artistas trabalharem, mas ao mesmo tempo nunca fomos tão descriminados. Tenho reparado que um pouco por todo o lado as companhias de marionetas portuguesas têm trabalhado, produzindo novas peças e realizado oficinas de marionetas, criando e ensinando como nunca aconteceu nos últimos 40 anos. Não muitas vezes, recebo no e-mail da UNIMA um pedido de informação sobre o teatro de marionetas produzido em Portugal a que respondo com muito orgulho reencaminhando todos os sites dos nossos associados. Se somos tão reconhecidos lá fora pelos nossos pares, porque é que cá dentro somos tantas vezes trocados pelo que vem lá de fora? O que se produz em Portugal em termos de teatro de marionetas é muito bom e recomenda-se.
Senhores Programadores, Produtores, “Reis” e afins que decidem o que pode ou não ser apresentado, nas salas de espectáculos deste país pagas por todos nós: Deixem trabalhar quem o quer fazer, e não empatem. Aprendam com os raros exemplos que existem, pois são de excelência. É tão fácil destruir como ajudar, e neste momento difícil para todos, temos de nos unir e não separar. Eu acredito no Teatro de Marionetas feito em Portugal e farei tudo o que estiver ao meu alcance para que este continue a ter o respeito e reconhecimento que merece.
Abraço! A todos os que amam, vivem e respiram o Teatro desta forma tão bonita.
Viva o Dia Mundial da Marioneta, 21 de Março de 2013
José Gil
(Presidente da UNIMA Portugal)

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