segunda-feira, março 21, 2016

UNIMA Portugal - Mensagem Internacional para o Dia Mundial da Marioneta


Comemorações do Dia Mundial da Marioneta 2016 – 21 de Março

No passado dia 2 de Janeiro de 2016, faleceu o Professor Henryk Jurkowski.
Este homem incrível de erudição, pesquisador, crítico de teatro, escritor e antropólogo, dedicou sua vida ao mundo do teatro de marionetas granjeando inúmeros amigos e admiradores em todo o mundo.
A fim de o recordar e manter junto do nosso coração, as instâncias da UNIMA decidiram retomar em 2016, a bela mensagem internacional que então escreveu para o Dia Mundial da Marioneta de 2011:



21 de março de 2016
(Henryk Jurkowski, 1927-2016)
Eis-me aqui, na cidade de Omsk, Sibéria Ocidental. Entro no museu etnográfico. De súbito, os meus olhos são atraídos por uma grande vitrina onde estão dezenas de figuras: são os ídolos das tribos fino-úgricas Mansi e Khanti. Eles parecem saudar cada visitante. Um impulso interior leva-me a retribuir-lhes o cumprimento. São figuras magníficas. Representam um traço duradouro da espiritualidade entre as primitivas gerações humanas. São elas e seu mundo imaginário que estão na raiz das primeiras manifestações e representações teatrais, sagradas ou profanas.
As colecções de Arte são abundantes em ídolos e figuras sagradas que, pouco a pouco, se desvanecem na memória. Mas nos museus, também há marionetas, as quais conservam as marcas das mãos de seus criadores e dos seus manipuladores. Dito isto, essas mãos revelam os vestígios da destreza, da imaginação e da espiritualidade humanas. Existem coleções de marionetas em todos os continentes e em quase todos os países. Elas são um orgulho para os coleccionadores. Constituem um campo de investigação, conservam bem viva a memória e acarretam uma importante prova da diversidade da nossa disciplina.
A arte, como muitas outras atividades humanas, submete-se a duas tendências: uniformidade e diferenciação. Hoje, vemos as duas tendências coexistir ao nível das atividades culturais. Podemos constatar que, obviamente, a facilidade de viajar, tanto pelos céus e como pela net, multiplica o número de contactos em inúmeros congressos e festivais, o que conduz a uma muito maior uniformidade. Em pouco tempo, nós viveremos verdadeiramente na aldeia global de McLuhan.
Este facto não significa que tenhamos perdido completamente o sentido da diferenciação cultural, mas antes que companhias teatrais em significativo número recorrem agora a meios ou técnicas de expressão semelhantes.
Estilos de marionetas tais como o ningyo joruri japonês ou o wayang indonésio foram assimilados na Europa e América. Simultaneamente, grupos asiáticos ou africanos estão usando técnicas marionetísticas europeias.
Amigos meus dizem-me que, se um jovem artista japonês pode ser um virtuoso a tocar obras de Chopin, um americano poderia tornar-se um mestre de Joruri ou um Dalang executando purva wayang. Eu posso concordar com eles, sob condição de que o marionetista assimile não apenas a técnica do Bunraku mas também toda a cultura que lhe está subjacente.
Muitos artistas satisfazem-se com a beleza exterior da marioneta que, contudo, oferece aos espectadores a oportunidade de descobrir diferentes formas de arte. Deste modo, a marioneta invade novos territórios. Mesmo no campo do teatro de actor, veio a tornar-se fonte de várias metáforas.
Esta grande expansão da marioneta figurativa está ligada a um movimento proporcionalmente inverso quanto ao território anteriormente ocupado. Isso deve-se à invasão do objecto e, em maior escala, no que toca à matéria. Porque todo o objeto, toda a matéria, sujeitos a uma animação, interpela-nos e exige o seu direito à vida teatral. Assim, o objeto agora substitui a marioneta figurativa, abrindo aos artistas um caminho para uma nova linguagem poética e para uma criação que envolve imagens ricas e dinâmicas.
A imagética e metáforas que antes eram as características de cada tipo de marioneta, diferenciando-as umas das outras, tornaram-se hoje a fonte da expressão para cada marionetista individual. Assim, aparece uma nova linguagem poética singular que não depende da tradição genérica, mas do talento do artista e da sua criatividade individual. A uniformização dos meios de expressão gerou a sua diferenciação. A aldeia global de McLuhan tornou-se no seu antípoda. Os diferentes meios de expressão tornaram-se os instrumentos da palavra individual que sempre prefere soluções originais. Claro que a tradição figurativa no teatro de marionetas não desapareceu do nosso horizonte. Esperemos que permaneça perenemente como um precioso ponto de referência.
Henryk Jurkowski – 2011

Tradução de 2016 de Ildeberto Gama associado nº16
Agradecimento a Rui Sousa associado nº104 pela primeira tradução em 2011.

Sem comentários: