sexta-feira, outubro 29, 2010

Subsídios para a História da Marioneta Portuguesa - Armando Ferraz: O último fantocheiro


Armando Ferraz: O último fantocheiro

A Gafanha da Nazaré pode orgulhar-se de ter entre as suas gentes um artista popular que, mesmo iletrado, se tornou famoso. Foi, decerto, um dos últimos fantocheiros, ao jeito daqueles que andavam de feira em feira a exibir a sua arte. Era ele Armando Ferraz, que morava no «canto dos zanagos», perto do “Zé da Branca”, onde convivia com amigos, saboreando um qualquer aperitivo ou digestivo.
Trabalhava na JAPA e distinguiu-se, entre nós, como artista um pouco de tudo. Foi ensaiador de ranchos e marchas, sendo exímio na preparação de encadeados ou entrançados. Mas a sua arte preferida, aquela que levou até ao fim da vida, foi a dos fantoches, também chamados robertos.
Calcorreou arredores da nossa região, ensinou na Universidade de Aveiro as suas habilidades na confecção do necessário para apresentar os fantoches, embrulhados em estórias que ele muito bem sabia urdir e exibir como ninguém.
Apresentou-se na Figueira da Foz e no Algarve. Aqui até deixou alguns bonecos e uma palheta para ver se entusiasmava alguém. «A palheta é feita de duas latinhas embrulhadas por uma fita», para poder produzir os sons característicos enquanto falava, explicou.
Trabalhou em escolas e jardins-de-infância, «a pedido dos professores e educadoras», nas praias e nas feiras. E tudo fazia sem pedir qualquer paga, limitando-se a aceitar o que lhe davam. Contudo, muitas deslocações eram da conta de quem o convidada.
Tornou-se fantocheiro aos 14 anos. Viu os robertos numa Feira de Março e quando chegou a casa fez uns à navalha. Vestiu-os, imaginou uma estória e fez rir a bom rir os irmãos. Aos 15 anos, no largo do “Zé da Branca”, enfrentou o público. Disse-me: «Pelo que vi e ouvi, todos gostaram» E nunca mais parou.
Como personagens principais tinha o Barbeiro, «que bate nos outros que se farta», o Cliente e a Mulher, o Polícia e o Padre, e ainda o Diabo, o Touro e o Toureiro.
Trabalhou sempre desde os 15 anos. Por morte de sua mãe, os seus robertos ficaram guardados numa caixa durante um ano.
Faleceu em19 de Março de 1997, com 73 anos de idade.


Fernando Martins

In "Gafanha da Nazaré: 100 anos de vida"

in http://galafanha.blogspot.com/2010/10/armando-ferraz-um-artista-iletrado.html

(Sr. Fernando Martins o nosso muito obrigado por permitir a publicação do texto no blog Marionetas em Portugal!!)

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